terça-feira, maio 15, 2007

Luís Brito Pedroso














Luís Brito Pedroso nasceu em Lisboa em 1977, numa véspera de Natal invulgarmente quente. Cresceu em Barcarena, onde vive, e licenciou-se em arquitectura em 2002, já a escrita e a leitura se tinham tornado partes importantes da sua vida. Escreve essencialmente poesia, mas gosta de se aventurar, tendo terminado recentemente o primeiro romance e estando a trabalhar num dicionário de novas palavras a que chama de Lucidário. Só publicou o primeiro livro em 2005, mas garante que tem muitos mais já prontos, esperando apenas o tempo certo para a publicação. A arquitectura vai permitindo a subsistência.

Livros publicados:

- Poema seis (poesia) Papiro editora, Dez. 2005

- O meu nome e a noite (poesia) Papiro editora Fev. 2007

Blog do autor:

Eterna Figura de Corpo Presente


Breve Entrevista:

s.m. Sei que és arquitecto. Muitos projectos? É difícil conciliar a escrita com a arquitectura?

L.P. Alguns projectos pessoais, àparte a actividade como colaborador em ateliers que é o que me dá, ainda que pouco, dinheiro. A conciliação é fácil, pois a escrita está sempre comigo. E se alguma ficar prejudicada não será decerto a escrita. Para escrever, não é preciso muito.


s.m. "O meu nome e a Noite" é o teu 2º livro publicado, novamente de poesia. De certeza que tens diferentes projectos na gaveta, queres falar um pouco sobre eles?

L.P. Tenho sempre vários projectos, mais do que aqueles a que me posso dedicar, já que não vivo da escrita. A poesia continua a ser a minha área, mas terminei agora um romance (não sei se lhe posso chamar isso), ou narrativa, ou... qualquer coisa. Uma história em prosa. Tenho também outro projecto ainda em embrião em que um fio comum une vários contos muito curtos e ainda um novo dicionário, constituído por palavras que (ainda) não existem. Este último projecto dará em breve origem a uma exposição de imagens, feitas por vários jovens artistas, sugeridas por essas palavras. E também te revelo que em princípio, em 2007 será lançado um disco de música ambiental baseado no Poema seis. Eu já tenho uma cópia em fase final de masterização. É uma óptima sensação sentir a minha escrita cruzar-se com outras artes. Quem sabe no futuro o teatro e o vídeo.


s.m. Uma vez que já "experimentaste" poesia e prosa (ainda que esta última esteja ainda por publicar) posso arriscar perguntar: é mais difícil escrever (se é que escrever pode ser considerado difícil para um escritor) qual dos géneros?

L.P. Nem um nem outro são difíceis, apetecia-me responder. Mas escrever uma narrativa em prosa exigiu muito mais de mim. Pelo menos deu muito mais trabalho, demorou mais tempo... é um preguiçoso incorrigível a responder. Mas escrever não é assim tão difícil. Nem o escritor é aquele bicho do mato que muitas vezes dele querem fazer. Também pode ser como eu, alguém que sabe de cor todos os jogadores do campeonato da primeira divisão, fala mal frequentemente e farta-se de disparatar. Escrever não é difícil, trabalhar é que é.


s.m. Qual foi sensação de ver "Poema Seis", o teu primeiro livro, publicado?

L.P. A sensação foi óptima mas também te digo que foi breve, pois rapidamente pensei que queria publicar mais uma série de livros. Mas foi fantástico vê-lo nas estantes. A primeira livraria em que o encontrei foi a Sá da Costa, ao lado da Brasileira do Chiado. O momento do lançamento também foi especial, porque estava reunido numa sala grande parte do mundo humano que me rodeia mais proximamente.


s.m. Tiveste a mesma sensação com a publicação deste 2º livro?

L.P. Ainda foi melhor, porque a distribuição foi mais eficaz (risos). E enquanto objecto acho-o mais bonito. É um aspecto importante para mim, e tenho a sorte de poder ser eu a fazer as capas, nesta editora.


s.m. Tiveste formação em Escrita Criativa?

L.P. Zero.


s.m. Em termos literários, acreditas no termo "inspiração"?

L.P. De uma forma cautelosa. É verdade que há momentos em que existe uma sensação de clarividência a que poderia chamar de inspiração. Com o trabalhar contínuo ao longo de alguns anos acho que consigo chamar essa senhora mais vezes. Mas a transpiração ocupa mais espaço e tempo.


s.m. O que pensas das edições de autor?

L.P. Esforços louváveis, de quem veste a camisola do trabalho que faz e raramente recupera o dinheiro e o amor aplicados nisso. Não me estou a ver a enveredar por aí, nem que seja pela parafernália burocrática. Tinha um esgotamento.


s.m. Organizas o teu tempo para escrever?

L.P. Não, de todo. Talvez devesse fazê-lo. E desperdiçar menos tempo.

s.m. Como caracterizas o teu processo de escrita?

L.P. Qual processo (risos)? Julgo que escrevo, no caso da poesia, muito por impulso. Com o tempo, fui-me disciplinando, mas de forma espontânea, no sentido em que consigo guardar as ideias algum tempo antes de as passar ao papel. Aqui em sentido figurado, porque cada vez mais escrevo directamente no portátil. Um dia vamos todos desaprender a caligrafia. Mas o impulso aparece frequentemente. Chamemos a isto repentismo.

No caso da narrativa em prosa que escrevi, as coisas foram diferentes. Dediquei-lhe algum tempo de forma continuada, li e reli e corrigi muitas vezes até estar satisfeito. Não é que esteja, mas tinha que o dar por terminado, caso contrário estaria eternamente a corrigir.
A verdade é que sinto que devia dedicar-me muito mais tanto em tempo como em esforço.


s.m. Alguma vez te aventuraste no mundo dos Prémios Literários?

L.P. Muitas vezes. Como não ganhei nenhum, acho que é uma cabala contra mim. Se eu não ganhei, é porque os prémios não prestam (risos).


s.m. Ainda não tive oportunidade de ler "O meu nome e a Noite" mas li o teu primeiro livro. Está incrivelmente bem estruturado. Tens uma forma especialmente racional de colocar os sentimentos em palavras. Concordas? A tua mão é guiada pela razão, pelo sentimento ou pela simbiose quando escreves?

L.P. Fico contente por ouvir isso. Aliás, gosto bastante de receber feedback mais específico em relação à minha escrita, coisa que não acontece muitas vezes. Em princípio concordo, mas isso já dava tema para debate largo. Não sei responder à tua última pergunta. Será pelo ego?

A estruturação... será que a minha formação em arquitectura influencia isso? É possível.


s.m. Quando começaste a escrever?

L.P. Aos quinze anos. Estaríamos em 1993 e eu “naquela fase”. No liceu. Mas mais a sério, só depois dos 18, já nos tempos de faculdade. Há coisas antigas que recuperei para publicar futuramente, algumas dessa fase dos 18 anos.


s.m. Qual é o teu livro preferido (dos que já escreveste)?

L.P. Só publiquei dois, mas a verdade é que já tenho mais seis prontos a publicar. Fora os que estão em processo de escrita agora, que são dois... o preferido talvez seja sempre o próximo... não te vou dizer agora os títulos dos outros, nem revelar mais nada sobre eles. Bom, deixa estar, vou mesmo:

O romance chama-se Oceano Um, e tenho outros de poesia com os títulos Um inexplicável desejo de; Eterna figura de corpo presente; Suidi-solstício (este é um único poema muito longo); Cortante; finalmente, fui,sou que espero conseguir publicar em finais de 2007.

Entre os dois que publiquei, não escolho. Um é melhor nuns aspectos, o outro noutros, e vice-versa com as fraquezas que lá vejo.


s.m. Que autores lês?

L.P. Aquilo que mais leio é poesia contemporânea portuguesa. Mas sou um devorador dos surrealistas portugueses, sobretudo o chamado grupo dos dissidentes de Cesariny e companhia. Al Berto e Herberto Helder serão os outros dois monstros.

s.m. Qual é o teu conselho para quem [tal como tu fizeste] deseja retirar da gaveta as suas palavras?

L.P. Perseverança. Continuar a ler e a escrever, para ter palavras cada vez melhores para tirar da gaveta. E ir tentando. Participar em concursos, enviar a editoras, mostrar às pessoas, não ter medo e muito menos vergonha, que já vi nalguns casos de pessoas que escrevem mesmo muito bem.


:) Agradeço a disponibilidade e a tua excelente boa disposição nas respostas ao meu torpe questionário e desejo que tudo corra da melhor forma nos teus projectos futuros.